KAREN ALESSANDRA HÜSEMANN – 1109761
Licenciatura em História
PROJETO DE PRÁTICA
HISTÓRIA DO BRASIL
Centro
Universitário Claretiano
Licenciatura em História
História
do Brasil
Professor
Rodrigo Touso Dias Lopes
CAMPINAS - SP
2015
Projeto de Prática
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Título do Projeto: Diferentes visões sobre a escravidão
no Brasil
Entrega do Projeto -13ª Semana de 2015
1. Descrição do Projeto:
A escravidão tem sido um tema
recorrente e, por vezes, controverso da historiografia brasileira, como você
estudou recentemente na Unidade 3 do material de História do Brasil II. Nesse
contexto, a atividade que propomos agora é uma avaliação crítica dos materiais
didáticos de História, no que diz respeito à temática da escravidão. Pesquise
em um livro didático de sua escolha como a escravidão é abordada, refletindo se
o livro identifica os escravos partindo de sua origem na África ou não; se o
livro mostra diferentes tipos de escravos que viviam no Brasil Imperial; como o
livro aborda a sociabilidade dos escravos, onde moravam, suas relações
familiares, sua religiosidade e como são representados em imagens. Além disso,
reflita como o livro trata o processo abolicionista, qual o papel da princesa
Isabel e qual a condição dos escravos antes e depois dessa Abolição.
2. Público-alvo:
Alunos do curso de
Graduação.
3. Objetivos:
·
Refletir sobre a escravidão durante o Império
brasileiro, como a historiografia a avalia e como o livro didático traduz esse
debate.
·
Realizar um estudo prático e crítico a respeito
do modo como a escravidão é tratada pelos
livros didáticos.
Introdução
O livro
didático, é produto que oferece um material selecionado a partir de interesses
ideológicos, políticos e pedagógicos. Partindo dessa premissa, não podemos
negar que ao longo de toda contemporaneidade, foi-se através dos interesses,
produzindo-se um material capaz de contemplar a história da escravidão de forma
a integrá-la de forma efetiva. Apesar dessa intenção, não me parece ser esta a
realidade, pois ainda não se tem noção nem mesmo de utilização de termos ou
palavras que façam jus ao evento histórico. E também não posso dizer que há uma
história da escravidão à parte, mas sim uma única história que está envolvida
em várias épocas e situações em que o ser humano esteve presente.
Desenvolvimento
À
escravidão, no livro didático do Projeto Araribá no ensino de História para o Ensino
Fundamental, é mencionado a presença de africanos escravizados no Brasil,
trazidos compulsoriamente de seu continente de origem, a África. Também abordam
o assunto antes disso, como os africanos já estavam habituados à essa prática
escravista, por seu próprio povo e o tráfico em navios negreiros e suas rotas.
Todos esses assuntos são tratados, porém não se fala em vida antes disso. Sim,
e houve muita vida antes disso! E parece que essa vida ficou apenas reservada
apenas para cursos superiores e a escola de educação básica, ficou com os temas
que circundam apenas sobre a escravidão. Termos como “Os escravos de origem
africana” erroneamente são empregados nas leituras, dentro de um contexto pouco
trabalhado no sentido humano e democrático. A palavra, escravo dá sentido de que eles aceitam a condição e é uma condição,
um estado de ser e não de estar. E eles estavam sob a condição,
compulsoriamente. Foram alocados a condição escrava. Portanto, não nasceram
escravos. Essa é uma visão eurocêntrica de sentido interpretativo da palavra,
pois eram esses europeus que encontraram os africanos em sua terra natal, já
praticando tal ato com os seus, o que os fez pensar, naturalmente que, ou
convenientemente que, nasceram para tal. E já sabemos pela historiografia que isso
não é fato e sim interpretação.
|
Debret - Mercado na Rua do Valongo |
Aos
escravizados, no livro didático do Projeto Araribá no ensino de História para o
Ensino Fundamental, são trabalhados mais detalhadamente sobre sua sociabilidade
e ainda são retratados em algumas imagens de pintura, algumas passagens de suas
vidas no Brasil, como é o caso da pintura de Debret que podemos observar que
após a chegada de africanos nos portos, eram imediatamente vendidos em um
mercado (a mercadoria). A figura nos mostra alguns africanos recém-chegados
aguardando novo destino em sua venda em um quadro intitulado Mercado da Rua
Valongo. Interessante trabalhar com essas imagens, pois são extremamente
sensibilizadoras. A eles também são trabalhadas, no livro, a questão da resistência,
e dos movimentos de resistência em um texto sobre a formação de quilombos e
neste mesmo texto, sobre os remanescentes e seus territórios, para haver
movimentos de resistência, era preciso se abandarem de alguma forma. Nesta
parte da resistência, podemos encontrar o fato de serem violentamente
castigados quando resistiam ao serviço ou simplesmente desobedeciam alguma
ordem que deveria imediatamente ser submetida pelo escravizado, contentando seu
dono.
Muito
interessante o fato de um livro didático citar obras à parte que podem nos contar,
nem que seja uma frase, ou apenas parte de um texto, aprofundando e embasando o
aprendizado, como é o caso de Gilberto Freyre em Casa Grande e Senzala,
mencionado no tópico A convivência entre
senhores e escravos do livro didático, onde é revelado uma parte da
história desses, bem interessante. O texto refere-se a questão social entre
senhor e “escravo” onde aparece o segundo como grande contribuinte cultural, na
historicidade da nação brasileira e mais a frente para comparação e reflexão,
utilizam a discordância do pensamento de Freyre com o pensamento de Jaob
Gorender. Ele concorda com Freyre até o ponto das trocas culturais, mas afirma
ser um campo de isolar o fato da dominação e exploração que o escravismo
proporcionou no Brasil. Essa comparação permite que o profissional trabalhe com
ênfase neste capítulo da história e na minha opinião, o segundo pensamento
completa o primeiro.
A violência
em que escravizados eram tratados, a violência contra a mulher escravizada, em
especial, os filhos gerados por elas com seus proprietários e suas
consequências, e o índice de mortalidade entre africanos no Brasil, que é
importante fato para a justificativa de se buscar cada vez mais mão-de-obra,
aumentando significativamente o tráfico. A religião, importante ponto de
destaque para conhecer e reconhecer heranças dos povos africanos para o Brasil,
o sincretismo religioso, dado como imposição para muitos antropólogos, como o
próprio livro nos avisa, porém haja tempo que nesse fato pode-se refletir algo
que realmente mesclou em festas que normalmente celebramos, sem sequer nos dar
conta que apesar de imposições sobre a religiosidade desses africanos no
sentido de não os permitir em público suas celebrações, algo aconteceu que se
misturou e foi aceito em algum momento e que claramente não é abordado neste
livro, por razões que para mim são óbvias, ideologia. Ao final do capítulo
sobre a escravidão, abordada neste livro didático, existe alguns textos
complementares que mostra em um dos tópicos a visão europeia sobre a senzala, e
é de extrema importância este texto, se trabalhado de forma correta e domínio
do assunto, para utilização comparativa com a visão que hoje já está
engatinhando sobre estes povos que marcaram nossas sociedade, nos deixaram uma
herança rica em conceitos, culinária, religiosidade, cultural, força, garra,
perseverança e sobretudo, parte integrante de nossa identidade nacional. Os
conceitos europeus, impossibilitou o real, o que de fato aconteceu, mas servirá
como base de uma reflexão que poderá ser resgatada com o estudo da história e
cultura africana que constituiu a história e cultura afro-brasileira.
Mas para
tratar, especialmente do tema sobre escravidão (exclusivamente) é sugerido
filmes como Quilombo, o eldorado negro que destaca atividades que os escravizados,
que tipo de pessoas frequentavam esse lugar (O Quilombo dos Palmares), história
brasileira, abordando o tema da fuga de um grupo de escravizados até os
Palmares. A visão que os escravizados tinham sobre o Quilombo dos Palmares.
Apesar de
alguns pontos bem positivos que traz esses tópicos sobre a sociabilidade dos
africanos escravizados no Brasil, ainda assim, o cenário carece de muitas
outras informações como cultura.
Eu me
pergunto como seria se os profissionais da educação fossem apenas formados
empiricamente, sem nenhuma experiência acadêmica, nem um preparo pedagógico. Da
mesma forma, acredito ser com a história que permeia a escravidão até a
abolição dos escravos. E como falar desse assunto, se não o tem com
propriedade? E por que resumir essa história a um fato isolado para se falar e
entender sobre a história dos povos africanos no Brasil? Não é certo que
falemos apenas disso, mas sim e sobretudo de toda a história, pois somente
assim iremos reconhecer como parte de nossa própria história e partir da
premissa de que se não se conhece toda a sua história, também não se conhece.
Se não se conhece, não será capaz de reconhecer o identificar o que constrói
realmente uma identidade.
Para analisar
o processo abolicionista, qual o papel da princesa Isabel e qual a condição dos
escravizados antes e depois dessa Abolição, utilizei outro livro didático, pois
é decorrente de cada série, a divisão deste conteúdo, para tal elegi, dentre
muitos outros, o de Patrícia ramos Braik – Estudar História, das origens do
homem à era digital para o 8° ano do ensino fundamental. A representação do
fato histórico, neste livro didático, utiliza um pequeno texto inicial, onde é
abordado o início da abolição, fato bastante relevante, porém não apresenta a problemática
do assunto, mas o que se segue neste mesmo texto, são questões relevantes ao
contexto do processo abolicionista no Brasil , envolvendo os britânicos, as
leis graduais e as tentativas de abolição no Brasil, o fim dessa instituição
com a Lei Eusébio de Queiroz, para este texto, fora representado com duas
imagens/pinturas, a primeira em comparação da segunda. Sendo a primeira de
cunho livre, liberdade dos escravizados, representados pela mão-de-obra cara de
dois homens livres, fotografada por Christiano junior, datada de 1865. A
segunda representada por homens em cativeiro dentro de um porão de navio em
condições sub-humanas, para o trabalho escravo, na pintura de Francis Meynell,
datada também de 1845 e que coincide com a mesma época em que se iniciou de
fato uma alteração significativa porém, bastante cruel e desumano, pois com a
atitude do parlamento britânico que aprova que os navios poderiam ser
interditados se houvesse a possibilidade de haver tráfico de africanos e com
isso os traficantes, com medo, jogavam os homens e mulheres ao mar com uma
pedra amarrada em seu corpo para que não pudessem sobreviver. Estas duas
imagens são excelentes para comparação da situação vivenciada pelos homens
livres e os cativos, na mesma época ambos estavam em opostos a situação do
outro, e o segundo, já podendo se valer de sua liberdade, ainda não o fazia por
conta da resistência que embargou por muito tempo, todo o processo de abolição
da escravatura, no Brasil. Gosto de mencionar essas particularidades, pois para
mim, servem como elementos de sensibilização, ao contar a história para os
discentes ou a quem seja ouvinte, geralmente abre espaço a curiosidade em saber
mais sobre o assunto. A datação transcrita no texto também permite uma análise
comparativa de quando se deu o início de todo o processo abolicionista, em
comparação ao processo gradual no Brasil, um processo bastante resistente, por
sinal. E para isso, é apresentado no segundo tópico, intitulado A Abolição Gradual da escravidão que
cita passo a passo desse processo com a Lei do Ventre Livre, a Lei dos
Sexagenários e a Lei Áurea que finalmente aboliu a escravatura, porém como até
os dias de hoje, não garantiu que os libertos integrassem à sociedade de forma
efetiva, claro, esse seria um outro passo que, assim, como o processo de
abolição da escravatura, levaria muito tempo para se concretizar. A página 259,
traz um texto muito interessante, intitulado O Trabalho Livre no Brasil, retrata o fato do costume do fazendeiro
estar acostumado com os maus tratos de escravizados e repetiam esse feito com
os imigrantes que chegavam para o trabalho nas lavouras. Bem pode-se com esse
texto, trabalhar questões sobre o dono de escravizados, a forma com eles sempre
se portara, não saiu deles nem mesmo após a abolição da escravatura. Este livro
apresenta muitas imagens que corroboram para uma leitura crítica e reflexiva,
muitas vezes até sensibilizadora do assunto. As imagens de Ângelo Agostini,
muito interessante, pois mostra a figura de vários escravizados fugindo com uma
trouxinha nas costas, um senhor deste lhe puxando pela roupa, como: - Volte!
Uma mulher desesperadamente fugindo com um bebê, seu filho, no colo todos em
cima de uma terra marrom clara sem vegetação, um campo aberto e somente ao
fundo e bem longe um sinal de vida! Essa imagem representa a fala do texto
abaixo, onde se intitula: A abolição Gradual da Escravidão. Não é mencionado
neste livro, a importância da Princesa Izabel na abolição. Pesquisei em vários
livros didáticos recentes sobre a Princesa, mas apenas é mencionada quanto o
momento em que assina a Lei Áurea e nada mais. Retomei minhas pesquisas várias
vezes e o que pude encontrar foram várias teses a respeito de uma princesa que
supostamente poderia ser “racista” e o tema que a envolve seria muito mais
complexo para ser abordado com o ensino básico de educação. Talvez em uma visão
marxista, a seleção do material didático que compõem estes livros recentes,
tenda a direcionar para uma história que quer marcar o feito como um movimento
popular, provando que a luta dos trabalhadores venceu a burguesia. Impondo
assim, aluta contra a escravidão como exclusivamente dos escravizados. Se for
trabalhar esta questão da Princesa Regente, terei que utilizar outras fontes
para reportar algo mais significativo, posso utilizar a Folha de São Paulo de
13 de maio de 1988 – p. 13 sob o título Divergências
marcam atos do 13 de Maio, com a revista de História da Biblioteca Nacional
Com o tema principal intitulado Isabel
uma princesa de carne e osso para comparar as discussões acerca dessa
inegável personalidade que é parte da história da escravidão, sem sombra de
dúvidas.
Conclusão
Estou
bastante apreensiva quanto a minha perspectiva da história da escravidão no
sentido crítico em relação ao material didático, em contrapartida, muito segura
de que há ainda passos muito grandes em torno de descobertas de novas visões em
relação a este evento que promoveu muitos episódios conflitantes, passível de
questionamento e direcionamento de uma nova história da escravidão a partir de
novas pesquisas que permeiam uma nova visão em todo o contexto relacionado com
estes povos vindos do continente Africano de forma compulsória. Em relação aos
livros didáticos, é como já mencionado no início desse artigo, que são apenas
colocações sistematizadas e selecionadas a partir de interesses ideológicos e
políticos de época. Passíveis de serem questionados e até substituídos por
outros materiais que o profissional de educação julgue ser a melhor opção na
abordagem do tema.
Referências Bibliográficas
A FOLHA: Divergências marcam atos do 13 de Maio. São
Paulo, 13 maio 1988. Documento digitalizado e enviado por e-mail aos 11 de maio
de 2015 às 21hs e 59min.
BRAIK,
Patrícia Ramos. O Segundo Reinado: O fim do tráfico negreiro, a abolição
gradual da escravidão. In: BRAIK, Patrícia Ramos. Estudar
História: das origens do homem à era digital 8° ano. São Paulo: Moderna,
2011. Cap. 14. p. 254-259. Disponível em:
<http://issuu.com/ed_moderna/docs/estudar-historia8ano>. Acesso em: 11
maio 2015.
ISABEL UMA
PRINCESA DE CARNE E OSSO: Da infância à abolição Uma católica Submissa A
duvidosa veia política Querida pelo povo. Revista de História da Biblioteca
Nacional: Biblioteca Nacional, v. 7, n. 80, maio 2012. Mensal.
MARIA RAQUEL
APOLINÁRIO (São Paulo). Projeto Araribá (Org.). Projeto Araribá
História: 7° ano. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2010. 268 p. Disponível
em: <http://issuu.com/ed_moderna/docs/arariba_historia_7_-_pnld_2014>.
Acesso em: 11 maio 2015.
12/05/2015 - 16:32 (Protocolo: 481985)
Achei excelente seu trabalho, Karen! Bom, você usa o Araribá, um bom material, e faz ali uma análise inicial bastante pertinente! Quando fala sobre a experiência de formação e a questão da identidade que se instala ali e, sobretudo, quando analisa também a iconografia, as imagens da abolição. Se uma imagem vale por mil palavras, imaginou bem quais são as palavras! Esse exercício no qual você busca o conhecimento sobre a escravidão em um livro didático tem uma dupla finalidade: em primeiro lugar, nos dá oportunidade de percebermos as diferenças no discurso entre o livro do ensino superior e o livro didático do Ensino Fundamental. Isso, por si, já vale a atividade, porque é importante entendermos como o livro didático pode se ocupar do acontecimento sem dar a ele a verticalização de contexto, ou seja, o contexto histórico maior que estamos vendo por aqui. A segunda finalidade é compreender como a escravidão é um tema complicado nos livros didáticos, que oscilam entre a sublimação do fato ou mesmo a sua negação, até a criação dos discursos políticos que ultrapassam a análise histórica. Seja como for, importa-nos aqui identificar esses modelos de tratamento do fato histórico, mais do que julgar o livro didático.
Um abraço,
Prof. Rodrigo.
Comentário de: RODRIGO TOUSO DIAS LOPES
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Grata
Karen Hüsemann